terça-feira, 26 de janeiro de 2010

BANCO GENUINAMENTE CIDADÃO



Cada qual do seu jeito e modo, externando a ordem emanada da vocação e formação, predicados norteadores para um juízo de crenças, valores e lutas.


Das últimas experiências vividas na atividade pública, a mais convidativa à reflexão foi encontrar um precário banco de pau montado por filhos de Tião e Djanira, residentes na comunidade Pau Ferro, nas entranhas do próspero e bem gerido município de Caculé.


Singelo, o utensílio se constitui em uma fina madeira de aproximadamente dois metros, "descansada" em duas forquilhas fincadas à margem da estrada vicinal que atende ao arrebalde e cercanias.

Nele, os "artesãos", a partir das seis, esperam o ônibus contratado pela municipalidade, que os conduz, juntamente a vários outros "estudantes da roça", para a sala de aula na cidade e, com isto, não mais à espera das chuvas, conforme tradição sertaneja. E assim "plantam" cotidianamente, para a obtenção da safra do saber - revolucionário veículo que diminui as distâncias e mais legitimamente atinge as aspirações que o verdor da vida alimenta, pouco importando o sonhador.


Sem dúvidas, num passado remoto, um sem fim deles não foram "convocados" a montarem bancos e, por conseguinte, deixaram de "alisar" bancos outros, possibilitadores de grandiosos vultos que nascidos iguais, pelas regras do "Criador", não foram "esculpidos" em decorrência das regras desiguais, impostas por uma sociedade que marca o rumo, o destino e a concretização dos sonhos de poucos, deixando "de pé" tantos fadados aos amargores da vida.

Que digam anônimos e heroicos professoras e professores leigos que previamente alfabetizados passaram a "arte" do saber a tantos que limitados no ter não alçaram voos grandiosos na vida, senão raríssimas exceções. Exemplo é um Dr. Jordão Antônio Nunes, Promotor Público aposentado pelo Estado de São Paulo, que aos 16 anos, em uma noite, na modesta morada no povoamento de Mateus, em Paramirim, aprendera o ABC com o "clarão" do parco facho do candeeiro, tocado à óleo de mamona, sob a regência de um daqueles "Aleijadinhos" de cidadãos cultos, reformadores sociais.


Diferente não foi Abraão Lincoln, defensor dos escravos, lenhador do mato americano que um dia dirigiu a mais portentosa nação do planeta, provador de sacrifícios semelhantes, vindo a se constituir num verdadeiro paradigma para homens públicos do planeta.

Foi desta forma que vi, analiso e compreendo o banco feito e utilizado pelos sertanejos filhos de Tião e Djanira.

Pena que no mundo contemporâneo muitos que não dispõem de um banco de pau na roça, e sim do ponto de ônibus na cidade grande, sejam tragados, corrompidos e seduzidos pelo germe do tráfico de drogas, restando-lhes a triste "graduação" da cadeia ou a antecipação do chamamento do Pai para o repouso eterno e, por tal, exige reflexões dos que se tocam com a avassaladora perda do ser na sociedade contemporânea.

(Junho/2009)

Um comentário:

Vanda Amorim disse...

Na minha infância em Paulo Afonso também tínhamos banquinho assim. Parabéns pelo blog.